Artesãos são alvo de clubes de futebol por usarem marcas ilegalmente

Empreendedores de produtos artesanaisdecoração de festas temáticas e bolos de aniversário – principalmente femininos – não poderia faltar na oferta clubes de futebol para uso não licenciado de marcas registradas. A busca e o contato foram feitos pela empresa cujos sócios foram presos sob acusação extorsão nas negociações, além de lavagem de dinheiro e associações criminosas.




A decoração de Vitória gerou um case que repercutiu na comunidade online de confeitaria.

Foto: @arts_pedreiras via Instagram/Estadão

Os clientes do NoFake incluem Palmeiras. De acordo com Estádioo setor jurídico do clube analisa o contrato assinado em maio. A empresa, que foi suspensa, lamenta o que chama de uma ação “baseada em provas frágeis”, enquanto os seus representantes apelam à libertação dos seus sócios. Além da investigação da Polícia Civil do estado de Minas Gerais, o Ministério Público de Minas Gerais aprovou a prisão dos dois.

A paulista Adriana Carvalho produz canecas, cadernos e camisetas há oito anos. Ela foi notificada pelo NoFake sobre uma caneca térmica que postou em um site onde promovia produtos. A taça trazia o escudo do Palmeiras.

Para evitar ser processada, Adriana fez um acordo no qual pagou R$ 1.600. Desde então, parou de produzir itens com escudos de clubes de futebol, o que se tornou um problema. “Frequentemente aparecem designs de equipe personalizados. São muitas encomendas, principalmente para ocasiões especiais”, afirma Estádio. Hoje ele está procurando emprego em atendimento ao cliente.

“Infelizmente, como não posso mais fazer isso, isso limita meu trabalho. Fora as despesas domésticas, tive autorização”, lamenta a empresária que tentou transferir o seu negócio para Bíblias personalizadas, mas não conseguiu obter os rendimentos necessários para se sustentar.

Casos semelhantes ao de Adriana estão se tornando cada vez mais comuns entre os empresários do setor. “Não podemos mais fazer bolos com enfeites de time. Imagina se isso pegar e não pudermos mais fazer biscoitos para princesas?”, questiona a influenciadora Danni Confeiteira em vídeo em que comenta outro caso. Além do clube paulista, o NoFake coopera ou já colaborou com ASA-AL, Avaí, América-MG, Atlético-MG, Atlético-GO, Botafogo, Cruzeiro, Joinville, Paysandu, Vasco e Vitória.

Palmeiras disse Estádio que possui uma área dedicada ao combate à pirataria, que abriga empresas especializadas em identificar produtos e serviços comercializados sem a devida autorização do clube. O clube possui registro de marca e proteção junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

A reportagem mostra que dois artesãos pagaram ao Palmeiras pela oportunidade de produzir canecas térmicas com a marca Palmeiras. Existe uma crença interna de que não cobrar taxas, mesmo para pequenas empresas, seria injusto para as empresas licenciadas.

O primeiro incidente que causou maior repercussão foi quando NoFake e Vitória pediram à artesã Patrícia França para fazer a decoração de uma festa de aniversário com o tema do clube. A página onde Patrícia publicou seu trabalho foi removida do Instagram.

A situação ficou conhecida após uma transmissão ao vivo da qual Patrícia participou. Outros artesãos e confeiteiros passaram a arquivar publicações em que promoviam produtos e bolos com emblemas da equipe, temendo que a situação se repetisse.

Vitória disse na época que notificava empresas, e não pessoas físicas, mas destacou a necessidade de um “novo alinhamento”. “As novas diretrizes estabelecem que o foco será nas grandes empresas e que as pequenas empresas, como é o caso de Patrícia França, serão notificadas sem a avaliação inicial de multa”, publicou o clube.

Porém, a multa só seria possível se a empresa continuasse a vender a marca sem autorização. Além disso, a equipe se solidarizou com a artesã e a convidou para participar de um filme que visa esclarecer a situação.

ATENÇÃO EXPLICAÇÕES! Ontem, o BNews publicou matéria alegando que o clube cobrou taxa de R$ 1.600,00…

Postado por Esporte Clube Vitória eles Sexta-feira, 16 de agosto de 2024

O site de Patríci foi restaurado. Seus produtos lançados recentemente não apresentam mais imagens de decorações de times de futebol. Fotos antigas ainda mostram imagens de escudos esportivos.

Há uma seção no site NoFake que explica como entrar em contato com você caso receba uma notificação extrajudicial. A empresa afirma ter uma equipe de advogados auxiliando nas negociações.

Duo teria ganhado A$ 4 milhões extorquindo artesãos por usarem marcas de clubes

E Operação Verita VisusIniciada pela Polícia Civil do estado de Minas Gerais, prendeu dois sócios da empresa NoFake. O incidente ocorreu na segunda-feira, 30 de dezembro, na cidade de Santos Dumont, a aproximadamente 215 km de Belo Horizonte. Segundo a investigação, seus rendimentos ilegais chegaram a R$ 4 milhões.

Um homem de 30 anos e uma mulher de 26 anos detidos durante a operação cooperam com a proteção da marca, buscando indenizações e acordos com vendedores de produtos não licenciados.

Conforme revelado pela Polícia Civil, a empresa procurava perfis nas redes sociais que vendessem produtos com a marca do cliente, mas sem licença. O NoFake então simulou o interesse de compra para obter mais informações dos vendedores.

Outro setor então os contatou sob ameaça de registrar um caso. Para evitar ser processado por violação de direitos de propriedade intelectual, foi necessário pagar um acordo extrajudicial. As possíveis medidas também incluíam a exclusão dos sites, como foi o caso de Patríca, e a denúncia do problema ao Procon.

A polícia referiu que os valores em causa foram determinados com base no número de seguidores nas redes sociais dos vendedores. Foi utilizado o argumento de que o contrato seria mais barato do que qualquer ação judicial proposta contra o vendedor.

Quando o acordo não foi honrado, a empresa denunciou o perfil utilizado na rede social e o excluiu. Segundo o delegado responsável pelo caso, Daniel Gomes de Oliveira, essas negociações não serão suficientes para isentar os vendedores da responsabilidade criminal pelo uso ilegal de marcas caso sejam comprovadas práticas criminosas. Isso porque o pagamento teve como objetivo cobrir “custos operacionais” e não compensar danos morais e materiais causados ​​às marcas.

A investigação da polícia mineira começou com registros de vários locais do Brasil. Os incidentes tiveram em comum o modus operandi do NoFake, que as autoridades policiais consideraram extorsão.

A mulher foi detida na sede da empresa, em Santos Dumont. Segundo o site NoFake, há também outros dois escritórios em Brasília e São Paulo. O homem foi detido em seu local de residência, também na cidade mineira.

As contas bancárias de ambos os sócios foram bloqueadas, assim como o caso da própria empresa. As operações da empresa estão suspensas. Foram apreendidos computadores, celulares, notebooks, diários de bordo, equipamentos de informática e um veículo de luxo.

Em nota, a NoFake lamentou a suspensão e disse que a decisão do tribunal “desconsidera o modelo de negócios da empresa e ignora as licenças oficiais concedidas por todos os seus clientes, credenciando-a para conduzir legalmente atividades de combate a esse tipo de atividade ilegal”.

“Ao longo da sua história, a NoFake desenvolveu uma metodologia eficaz e especializada no combate à pirataria, conquistando a confiança dos seus clientes e parceiros de negócio”, lemos mais adiante.

De acordo com os representantes legais da NoFake, foram tomadas medidas para anular as prisões, mas até o momento não tiveram sucesso.

Clubes podem adotar “postura mais amigável”, diz especialista

A lei de propriedade intelectual não distingue entre a posse dos chamados perpetrador (pessoa que usa a marca ilegalmente). “Um pequeno empresário que usa a marca do clube sem autorização está infringindo a lei, assim como o grande CNPJ. O valor da licença é determinado exclusivamente pelo titular dos direitos, e os pequenos empreendedores não têm oportunidade legal de obter licenças a preços mais baixos apenas por causa do tamanho”, explica Luciano Andrade Pinheiro, especialista em propriedade intelectual e sócio do Corrêa da Veiga Advogados.

“No entanto, os clubes poderiam adotar uma postura mais amigável e acessível, criando linhas de licenciamento mais lucrativas para pequenos empreendedores. Este seria um meio mais eficaz de proteger a sua propriedade intelectual e, ao mesmo tempo, ajudar a evitar a percepção pública negativa”, acrescenta Pinheiro.

Mas segundo Pinheiro, as práticas de clubes e empresas podem ser contraproducentes, mesmo dentro dos limites da lei. Ele sugere recalcular sua estratégia para encontrar um equilíbrio entre proteção da marca e empatia social.



Como parte da operação da Polícia Civil, foram apreendidos computadores, celulares, notebooks, diários de bordo, equipamentos de informática e um veículo de luxo.

Como parte da operação da Polícia Civil, foram apreendidos computadores, celulares, notebooks, diários de bordo, equipamentos de informática e um veículo de luxo.

Foto: Polícia Civil-MG/Divulgação/Estadão



Segundo os empresários, as condecorações de clubes de futebol e até da CBF, referentes à Seleção Brasileira, são muito populares.

Segundo os empresários, as condecorações de clubes de futebol e até da CBF, referentes à Seleção Brasileira, são muito populares.

Foto: @arts_pedreiras via Instagram/Estadão



Artesãos são alvo de clubes de futebol por usarem marcas ilegalmente

A decoração de Vitória gerou um case que repercutiu na comunidade online de confeitaria.

Foto: @arts_pedreiras via Instagram/Estadão



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